Consumo de ultraprocessados segue alto no Brasil
Esse tipo de alimento é frequente em 62% de lares em áreas rurais, mas ainda menor que em áreas urbanas
Os alimentos ultraprocessados, caracterizados por conterem uma grande variedade de ingredientes, incluindo sal, açúcar, gordura e aditivos industriais, estão se tornando cada vez mais comuns na dieta dos brasileiros e vem crescendo na área rural.
De acordo com um estudo publicado na "Revista Brasileira de Epidemiologia", conduzido por pesquisadores da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), 62% dos brasileiros que vivem no campo consomem esses produtos, o que os coloca como o segundo grupo alimentar mais adquirido, atrás apenas dos alimentos in natura, consumidos em quase 95% dos lares rurais.
Em contraste, nas áreas urbanas, a frequência de consumo de ultraprocessados é ainda mais alarmante, atingindo 74%. Nesses locais, os alimentos processados lideram as compras, com uma frequência de 81%, enquanto no meio rural essa taxa é de 61%.
Notavelmente, o cultivo de alimentos em casa, uma prática fortemente ligada ao consumo de produtos frescos, é dez vezes mais comum em áreas rurais, com 31% de adesão, em comparação a pouco mais de 3% nas cidades.
A pesquisa analisou dados de mais de 49 mil domicílios, coletados na Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018, realizada pelo IBGE. Os pesquisadores monitoraram as compras de alimentos e bebidas ao longo de sete dias, categorizando os locais de aquisição em supermercados, padarias, pequenos mercados, frutarias e cultivos caseiros.
Os cientistas também utilizaram a classificação NOVA, que categoriza os alimentos em quatro níveis de processamento: alimentos in natura ou minimamente processados, ingredientes culinários (como sal e açúcar), alimentos processados e, por fim, os ultraprocessados. A NOVA faz parte da NUPENS/USP, órgão de integração da Universidade de São Paulo, criado em 1990, com a finalidade de estimular e desenvolver pesquisas populacionais em nutrição e saúde.
Em áreas urbanas, as compras são predominantemente realizadas em supermercados (55%), seguidos por padarias (46%) e pequenos mercados (43%). Em contrapartida, nas zonas rurais, os pequenos mercados (53%) são os mais frequentados, seguidos pelos supermercados (32%) e pela produção caseira.
O estudo revela uma preocupação crescente com a baixa proporção de compras em feiras e frutarias, que oferecem produtos frescos e in natura, em comparação ao aumento da aquisição de ultraprocessados.
A coautora do artigo, Thais Meirelles de Vasconcelos, destaca a necessidade de ações governamentais que regulem a publicidade e tributem os ultraprocessados, ao mesmo tempo em que favorecem o acesso a alimentos in natura e minimamente processados.
“Incentivar pequenos produtores e promover feiras livres é fundamental, especialmente para a população mais vulnerável, contribuindo para escolhas alimentares mais saudáveis”, afirma Vasconcelos.
Ela acrescenta que o ambiente alimentar influencia fortemente as escolhas das pessoas, baseado na disponibilidade, acessibilidade e promoção de alimentos. Esses resultados são essenciais para o desenvolvimento de estratégias que incentivem mudanças nos hábitos alimentares.
Em 2006, o Ministério da Saúde lançou o "Guia Alimentar para a População Brasileira – Promovendo a Alimentação Saudável", com as primeiras diretrizes alimentares oficiais para a população. Para baixar o PDF, clique aqui.
Da Redação com informações do CicloVivo
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