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Foto do escritorCristina Viduani

Especial: Os 120 anos da Revolta da Vacina

A insatisfação popular foi gerada pela falta de informação e aconteceu em um momento de agitação no Rio de Janeiro, então capital federal



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A Revolta da Vacina, ocorrida em 10 de novembro de 1904, no Rio de Janeiro, foi um dos episódios mais intensos e significativos da história política e social do Brasil e está completando 120 anos. Durante cinco dias de confronto, a cidade do Rio de Janeiro, então capital federal, viu-se tomada por um levante popular contra a obrigatoriedade da vacinação contra a varíola.

imagem real sobre a Revolta da Vacina, em 1904
Interesses políticos e descaso social alimentaram a Revolta da Vacina - Foto: Reprodução/Casa de Oswaldo Cruz

O protesto resultou em 945 prisões, 110 feridos e 30 mortos, de acordo com o Centro Cultural do Ministério da Saúde, e deixou marcas profundas na relação entre a população e o Estado.


O Contexto Social e a Epidemia de Varíola


Em 1904, o Rio de Janeiro enfrentava uma epidemia de varíola que já havia provocado mais de 3.500 mortes naquele ano, com um número alarmante de internamentos em hospitais da cidade. Além da varíola, a capital sofria com surtos de outras doenças, como peste bubônica, febre amarela e tuberculose, o que contribuía para a péssima imagem de Rio de Janeiro no exterior, conhecido como o "túmulo dos estrangeiros".


A Revolta da Vacina foi desencadeada pela implementação da Lei nº 1.261, que tornava obrigatória a vacinação contra a varíola. No entanto, os protestos não foram motivados apenas pela medida sanitária. Eles refletiram uma complexa combinação de fatores sociais, políticos e econômicos, entre os quais destacam-se as reformas urbanas promovidas pelo governo do presidente Rodrigues Alves e pelo prefeito Pereira Passos, com o objetivo de modernizar a cidade. Essas mudanças, porém, afetaram negativamente a população mais pobre, que vivia em condições precárias nos cortiços da cidade.


A Vacinação Obrigatória e a Resistência Popular


A ideia de vacinação obrigatória não era novidade no Brasil. A vacina contra a varíola foi desenvolvida no final do século XVIII pelo médico inglês Edward Jenner, e, no Rio de Janeiro, a imunização contra a doença já era exigida desde 1837. Porém, a falta de adesão popular, o boato de quem se vacinava ganhava feições bovinas (o que nos faz lembrar da vacina contra a covid-19, quando se espalhou o boato de que quem fosse vacinado "viraria jacaré", mais de 100 anos depois), e a desinformação em um contexto de alta taxa de analfabetismo tornaram a medida ainda mais controversa.


A revolta foi alimentada por um forte sentimento anti-estatal, especialmente em um momento de tensões sociais e políticas, como observa o historiador Carlos Fidelis da Ponte, da Casa de Oswaldo Cruz. A população não aceitava a invasão de suas casas para a aplicação da vacina e sentia que sua liberdade estava sendo ameaçada pelo governo. A oposição não veio apenas da população em geral, mas também de intelectuais como Ruy Barbosa, que criticavam a obrigatoriedade da medida.


A Conflagração: Ruas Tomadas por Protestos


A Revolta da Vacina tomou as ruas do Rio de Janeiro de forma explosiva. Durante os cinco dias de confronto, bondes foram atacados, barricadas erguidas, fiações elétricas cortadas e árvores derrubadas. A violência também se direcionou contra os símbolos do governo, com ataques aos serviços públicos e à administração de Rodrigues Alves e Pereira Passos. A repressão foi severa, com a imposição do estado de sítio e a prisão de diversas pessoas, inclusive aquelas sem envolvimento direto na revolta.

Bonde tombado pelos manifestantes da Revolta da Vacina
Bonde tombado pelos manifestantes da Revolta da Vacina - Foto: Reprodução/Casa de Oswaldo Cruz

O governo acabou revogando a lei que tornava a vacina obrigatória em 16 de novembro, uma semana após os protestos. Contudo, a medida não resolveu completamente o problema da varíola. Somente em 1908, com uma nova epidemia, a população começou a procurar voluntariamente os postos de saúde para a vacinação.


As Lições que Ficaram


A Revolta da Vacina deixou importantes lições sobre a comunicação em saúde pública. Segundo o historiador, Fidelis da Ponte, a estratégia de Oswaldo Cruz, à frente da luta contra a varíola, falhou na forma de transmitir a importância da vacinação à população.


O governo investiu em comunicados científicos, mas esses documentos não atingiam a maioria da população, que era analfabeta ou semianalfabeta. A propaganda negativa, com charges, marchinhas e boatos, desempenhou um papel central na resistência popular.


Ainda assim, a Revolta da Vacina e as campanhas subsequentes de imunização ajudaram o Brasil a erradicar a varíola, doença que só foi oficialmente erradicada em 1971.


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