Impacto da Selic Nos Preços Não é Homogêneo e Varia Entre Bens e Serviços
Especialista considera que BC deve levar em conta as diferentes dinâmicas dos componentes do IPCA na aplicação da política monetária
Recente estudo do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made) revela que o impacto da taxa Selic nos preços da economia brasileira não é uniforme, variando significativamente entre diferentes grupos de bens e serviços que compõem o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A pesquisa, liderada pela especialista Marina Sanches, doutora em Economia pela FEA-USP, aponta que a política monetária, centrada no controle da Selic, apresenta eficácia desigual na contenção da inflação.
“A elevação da taxa de juros afeta a economia ao controlar a demanda agregada”, explica Sanches. Ao aumentar a Selic, o Banco Central encarece o crédito, desestimula o consumo e o investimento, e potencialmente aumenta o desemprego, aliviando assim a pressão sobre os preços. Contudo, esse efeito varia entre os componentes do IPCA. Setores como alimentação, bebidas e vestuário são mais sensíveis ao aumento da Selic, enquanto áreas como saúde e habitação demonstram resistência.
A pesquisadora destaca que a sensibilidade dos preços à Selic é distinta conforme o setor. “Nos setores de alimentação e bebidas, os preços tendem a cair com o aumento da taxa de juros, pois esses segmentos dependem fortemente de crédito e renda disponível”, afirma. Em contrapartida, setores como habitação e comunicação, com contratos de longo prazo e regulação de preços, não reagem da mesma maneira. Curiosamente, o setor de saúde e cuidados pessoais mostrou um comportamento diferente, com aumento nos preços, uma vez que a demanda é inelástica e os custos de financiamento são repassados ao consumidor.
Dados e Análises
O estudo analisou dados de 2007 a 2023, utilizando um modelo econométrico para mensurar esses impactos. Os resultados indicam que, em média, o aumento da Selic reduz a inflação agregada em apenas 0,02 ponto percentual após 24 meses, sugerindo que a inflação não é particularmente sensível à taxa de juros. Sanches ressalta que a eficácia da política monetária está atrelada ao grupo de bens que impulsiona a inflação. “Se a alta da inflação for provocada por alimentos ou artigos de residência, a política monetária será mais eficaz. Por outro lado, se a inflação for resultante de setores como transporte ou saúde, a Selic terá menos impacto”, explica.
Sanches também alerta sobre as implicações sociais desse cenário. “A política monetária acarreta altos custos sociais, como aumento do desemprego e da desigualdade de renda. Se o Banco Central não considerar as dinâmicas dos diferentes componentes do IPCA, pode sacrificar a economia e a população sem alcançar o objetivo de controlar a inflação”, adverte. A especialista sugere uma abordagem mais cautelosa na formulação das decisões sobre a Selic.
O estudo do Made destaca a necessidade de reavaliar os mecanismos de transmissão da política monetária no Brasil. Marina conclui que o Banco Central deve considerar não apenas a inflação agregada, mas também os setores que estão causando maior pressão sobre os preços, para que a política monetária seja mais equilibrada e eficaz, minimizando os impactos negativos sobre a sociedade.
Da Redação com USP
Kommentare