Pesquisadores brasileiros trabalham para transformar agave na “cana do sertão”
A meta é tornar a planta, usada na fabricação do sisal, uma alternativa para a produção de bioenergia
Pesquisadores brasileiros estão se dedicando a transformar o agave na nova "cana do sertão", uma alternativa promissora à cana-de-açúcar na produção de bioenergia. Com as mudanças climáticas ampliando a área semiárida no Brasil em 7,5 mil quilômetros quadrados anualmente, a cana-de-açúcar, essencial na geração de bioenergia, enfrenta desafios crescentes.
Diante dessa realidade, um grupo de especialistas, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), está investigando o agave, planta conhecida principalmente por sua utilização na produção de sisal e tequila no México.
O projeto, chamado Brazilian Agave Development (Brave), é uma parceria entre a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Shell e outras instituições renomadas como Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Os pesquisadores destacam que a principal espécie cultivada, a Agave sisalana, utiliza apenas 4% da planta, resultando em grande volume de resíduos. O suco extraído das folhas e o bagaço, ricos em inulina e celulose, respectivamente, podem ser aproveitados para gerar bioenergia. Além disso, as plantas exigem menos água e fertilizantes em comparação com a cana, crescem rapidamente e podem gerar até 800 toneladas de biomassa por hectare.
Com a coleta de diferentes espécies de agave no Brasil e no exterior, o grupo está criando um banco de germoplasma e avaliando fatores como composição de açúcares e necessidades hídricas. Esses dados são cruciais para desenvolver estratégias que ajudem a consolidar o agave como a nova "cana do sertão".
No entanto, a metabolização da inulina, que é fundamental para a produção de etanol, apresenta um desafio. Para resolver isso, os pesquisadores desenvolveram cepas de levedura geneticamente modificadas que podem hidrolisar a inulina, permitindo a fermentação. O projeto também visa criar bioestimulantes e fertilizantes para acelerar o crescimento do agave e já patenteou um composto que duplica essa taxa.
Adicionalmente, uma planta geneticamente modificada foi desenvolvida para resistir ao glifosato, facilitando o cultivo no semiárido, onde as ervas daninhas são um desafio constante. O objetivo é produzir não apenas etanol, mas também biometano, bio-hidrogênio e biochar, ampliando o potencial do agave como fonte de bioenergia.
Durante a Fapesp Week Itália, o professor Marcelo Falsarella Carazzolle, da Unicamp, apresentou esses avanços e discutiu como a agricultura de precisão pode otimizar a produção agrícola no Brasil, uma necessidade crescente à medida que a população aumenta.
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