Seca do Rio Paraguai gera conflitos entre pescadores e agricultores
A seca que baixou drasticamente o nível dos rios da Amazônia brasileira e o avanço da agricultura alteraram a paisagem da região
A seca severa que afetou os rios da Amazônia brasileira também impactou o nível do Rio Paraguai, que registrou sua menor cota histórica neste mês, chegando a alarmantes 62 cm. Esse fenômeno climático tem intensificado as tensões entre pescadores locais e agricultores de arroz na região pantanosa do sul do país, na fronteira com a Argentina.
Moradores do departamento de Ñeembucú e pescadores afirmam que as grandes fazendas de arroz, que utilizam a água do rio para irrigação, estão exacerbando a já crítica escassez hídrica. Crescencio Almada, um pescador com 35 anos de experiência na área, destaca: “É muito prejudicial. Eles consomem muita água e os níveis dos rios só pioram.”
A transformação da paisagem, com vastas extensões de terra destinadas ao cultivo de arroz em detrimento de corpos d'água e florestas, se torna cada vez mais evidente. No entanto, produtores de arroz e representantes do governo defendem que as mudanças climáticas, e não a irrigação, são as principais responsáveis pela crise hídrica.
Ignacio Heisecke, presidente da Federação Paraguaia de Arroz, comenta: “Trabalhamos aqui há cinco anos e já passamos por ciclos de baixa e alta nos níveis de água. O problema vem de montante, e os agricultores paraguaios rio abaixo não têm culpa.”
O diretor de proteção e conservação da água do Ministério do Meio Ambiente do Paraguai, David Fariña, acrescenta que a falta de chuvas na bacia do rio, combinada com a situação crítica no Brasil, são os principais fatores que levaram à atual crise hídrica. “O setor agrícola deve ser responsabilizado, já que a bacia do Prata enfrenta déficit hídrico há cerca de quatro anos”, afirma.
Atualmente, o Paraguai cultiva 175.000 hectares de arroz em Ñeembucú e em outros cinco departamentos, produzindo cerca de 1,5 milhão de toneladas métricas do grão. Em 2023, as exportações de arroz do país totalizaram cerca de 900.000 toneladas, gerando aproximadamente US$ 400 milhões.
Recentemente, o Rio Paraguai atingiu uma baixa recorde em 11 de outubro, embora tenha apresentado uma leve melhora posteriormente. A Diretoria Nacional de Meteorologia prevê que os níveis da água permaneçam baixos até o final do ano.
Sergio Jara, outro pescador da região, expressa sua preocupação: “O rio baixou muito. Antes, conseguíamos pescar uma quantidade razoável, mas agora quase nada. Não dá para viver assim.”
Com informações da Reuters
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